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Algumas fontes de variabilidade cultural na ordenação da fala

Some Sources of Variability in the Regulation of Talk (1976) apresenta a participação do ouvinte na co-construção da conversa e da interação face a face. O interlocutor é ratificado pelo falante, ou seja, o interlocutor é ao mesmo tempo ouvinte e falante em potencial. Susan reafirma observações feitas por Spir em 1925: “em diferentes culturas, não são os meios comunicativos que diferem; é a forma de sua organização que provoca resultados qualitativamente diferentes e percepções radicalmente distintas” ( PHILIPS in Ribeiro e Garcez, 2002, pg. 21).

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Susan comparou, em seu estudo, a organização da conversa em duas culturas: a dos anglo-americanos de classe média e a dos índios da Reserva de Warm Springs, Oregon.

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Objetivos do artigo de Susan:

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1º) considerar o papel do ouvinte na interação face a face;

2º) mostrar algumas das maneiras pelas quais o modo verbal e o modo não-verbal de ordenação da fala se integram em um único sistema;

3º) explorar o que é culturalmente diverso ou variável e a razão de nem tudo ser universal. Estudo dos grupos.

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Caso estudado:

Observação e gravação de anglo-americanos e índios da Reserva de Warm Springs.

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Pontos observados:

- O ritmo da conversa entre os índios é mais vagaroso. O número de sílabas utilizadas por minuto também é menor, principalmente quando há três ou mais pessoas na conversa;

- Nas conversas indígenas, as pausas são mais longas em turnos conversacionais de dois falantes. Tolera-se espaços em silêncio diferentemente das conversas entre os anglo-americanos;

- Nas conversas entre os índios raramente a interrupções (assaltos de turno). Os turnos são menores e a conversa se torna mais equilibrada;

- Nas conversas entre os índios e os anglo-americanos pode-se observar que nos dois grupos os movimentos corporais são visíveis em falantes e ouvintes.

- Os índios tem a expressão de calma, tranquilidade e controle. Não há deslocamentos corporais. Observa-se maior movimento em torno dos olhos (arregalar os olhos ou levantar as sobrancelhas) e menor movimento na parte inferior da face (menos sorrisos). Menos mudanças na posição do corpo;

- Entre os Warm Springs há menos diferenças no comportamento não-verbal entre falantes e ouvintes;

- Entre os índios há menos gestos com os braços e mãos acompanhando a fala, sendo que eles são qualitativamente diferentes dos gestos dos anglo-americanos.

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Conclusão:

Os falantes índios não exercem influência sobre quem será o próximo a falar através da identificação dos interlocutores ratificados (que geralmente são os próximos a falar) como na interação anglo-americana e os ouvintes índios não exercem controle individual sobre quem fala pelo simples fato de terem sido selecionados pelos falantes como interlocutores ratificados, nem exercem esse controle por auto seleção como interlocutores ratificados através de comportamentos não-verbais que vão além da atenção convencional.

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